Chegou o tempo em que as estatísticas não são apenas estatísticas. No começo orávamos por grupos de pessoas mais vulneráveis à crise, pelas autoridades e os efeitos desta pandemia no mundo. Agora, nossa lista de oração se amplia com nomes de pessoas queridas, de rostos conhecidos, de amigos e irmãos em Cristo.
Para mim o mais doloroso é ver crescer nesta lista de oração o número de famílias enlutadas.
Sabemos que a morte é uma realidade com a qual convivemos em nosso dia a dia. Todos os meses participo de pelo menos uma cerimônia de sepultamento. Então, o que há de diferente nestes dias?
Todos nós, em diferentes medidas, estamos nos sentindo mais vulneráveis. Sabemos que pessoas que nos são muito queridas também podem ser infectadas. Esta constatação nos fragiliza.
Há um grande número de famílias enlutadas ao mesmo tempo sofrendo uma dor semelhante. Semelhante porque a dor de cada luto é extremamente singular. A dor da separação de alguém que amamos é uma experiência muito solitária. Sua intensidade é variável não apenas pelo grau de parentesco, mas pelo nível de intimidade, os laços de amor e até mesmo dependência emocional entre aquele que vai e o que fica.
Além disso, há situações em que a progressão da doença é muito rápida e não há tempo para uma conversa mais íntima, uma declaração de amor, ou até mesmo um pedido de perdão e reconciliação…
A dor da separação nestes dias se intensifica pela impossibilidade do terapêutico ritual de um velório, a cerimônia religiosa de gratidão pela vida de quem partiu, os abraços longos e apertados dos muitos amigos, as homenagens póstumas, o cortejo no cemitério até o jazigo da família…
O que torna estes dias mais difíceis para nós pastores é não poder exercer de forma plena o ministério de consolo: participando do velório e do sepultamento, trazendo uma palavra de esperança alicerçada na Palavra de Deus, colocando a mão nos ombros dos que choram e, por vezes, também, literalmente, chorando junto.
Não é possível estar fisicamente ao seu lado meu amigo, irmão e irmã em Cristo, mas peço que receba esta mensagem que brota de fundo de minha alma para você.
Mesmo com tantas limitações, no atual contexto, dos instrumentos que Deus geralmente usa para minimizar a nossa dor não precisamos nos sentir desamparados. Tristes sim, desesperados não.
Ainda que o seu coração esteja apertado e a dor física seja real é possível experimentar o sobrenatural consolo divino, porque o Espírito Santo tem a capacidade trazer ao nosso coração uma paz que excede todo o entendimento.
Quando não é possível ministrar-nos consolo por intermédio de outras vidas Deus envia ao nosso Jardim do Getsêmani um anjo do céu para nos fortalecer. (Lucas 22:43) É exatamente esse anjo que agora peço a Deus que lhe faça companhia.
Lembre-se que nosso Mestre também chorou a perda de um amigo. A experiência de Deus na encarnação em Jesus de Nazaré faz com que Ele compreenda toda a dimensão de seu sofrimento.
Não tente agora entender porque suas orações pela cura não respondidas. Deus tem os seus mistérios que em nossa finitude humana não conseguimos decifrar. Mas, mesmo envolvidos em uma teia de dúvidas e questionamentos, com o coração inundado de dor e os olhos inchados de tanto chorar, é possível continuar crendo em Deus e no seu amor.
Há circunstâncias que tem tornado esta separação dos seus parentes e amigos mais dolorosa do que em outros momentos. Mas quero destacar quatro realidades que não mudam mesmo neste cenário tão diferente do usual:
1. A graça de divina. Na medida que você crer em Deus ela certamente será ainda maior sobre a sua vida. Afinal, a graça se aperfeiçoa exatamente nos momentos em que estamos mais fracos.
2. Nossa conexão espiritual com os irmãos na fé. Estamos longe fisicamente, porém intimamente ligados pelo Espirito Santo.
3. Boas lembranças e o legado deixado pelos que partiram. Quando se sentir mais forte deixe um registro escrito, ou gravado, ou em forma de poema ou de qualquer outra maneira, que o ajude a preservar a memória dos que nos deixaram. Não espere um culto presencial para fazer isso. Expresse sua gratidão a Deus por tudo de bom que você viveu com a pessoa querida que partiu.
4. O estado de absoluta paz desfrutado agora por aquele a quem você ama e que acolheu Jesus como seu Salvador pessoal.
Marcos Vieira Monteiro