Que justificativas seriam aceitáveis para deflagar uma guerra?
Que justificativas seriam aceitáveis para matar inocentes indefesos?
Que justificativas seriam aceitáveis para mandar diretamente para um front de morte, jovens soldados que poderiam ter uma vida longa?
Que justificativas seriam aceitáveis para trazer a milhares de famílias, a dor pela perda irreparável do filho, do esposo, do pai, de um irmão…
Que justificativas seriam aceitáveis para invadir um país sem que houvesse qualquer ataque anterior?
Que justificativas seriam aceitáveis para criar uma situação de pavor em milhões de pessoas, roubando-lhes o direito de trabalhar em paz em sua terra natal?
Que justificativas seriam aceitáveis para quebrar a economia de uma nação, promover o desemprego em massa no próprio país e contribuir para a recessão no mundo inteiro, depois de dois anos de pandemia?
Que justificativas seriam aceitáveis para deixar mulheres e crianças chorando se despedindo de um homem convocado a lutar pelo seu país?
Que justificativas seriam aceitáveis para exercer a censura à imprensa e não permitir ao seu povo a liberdade de acesso a informação?
Que justificativas seriam aceitáveis para reprimir, com violência e prisão, pacíficas manifestações pacifistas?
Que justificativas seriam aceitáveis para bombardear uma maternidade ferindo e matando civis?
Que justificativas seriam aceitáveis para mentir acerca do que realmente está acontecendo nos campos de batalha?
Que justificativas seriam aceitáveis para não condenar uma ação militar com essas e muitas outras consequências?
Em qualquer situação de conflito os dois lados precisam ser ouvidos sempre.
Às vezes ouvimos um lado e inicialmente damos razão ao que ouvimos primeiro, até ouvirmos o outro lado e entendermos as razões para uma determinada ação ou reação deste. Outras vezes, ouvimos ambos envolvidos em um conflito e é impossível não nos posicionarmos ao lado da vítima maior, mesmo que ela tenha os seus erros na dinâmica do relacionamento com o seu opositor. Quando isso acontece estamos sinalizando que as justificativas para a agressão não são aceitáveis para nós.
Geralmente quando entramos em conflito com alguém sempre temos as “nossas razões” e queremos provar que estamos certos e o outro está errado. Queremos provar que nossas razões para atacar ou agir de uma determinada maneira são justificáveis. Porém, se poucos realmente nos “entendem!” e se solidarizam com nossas ações, se os amigos nos aconselham moderação ou recuo em uma determinada situação de conflito, devemos considerar a possibilidade de estar errados e que nossas justificativas realmente são apenas desculpas “esfarrapadas”.
Se tenho um vizinho hostil que compra um fuzil, é justificável que eu entre atirando dentro da casa dele?
Se minha esposa diz que está insatisfeita com o nosso casamento, é justificável que eu saia de casa e peça o divórcio sem nenhum esforço de reconciliação?
Se meu filho faz amizade com pessoas do meu conhecimento, de péssima influência, devo expulsá-lo de minha casa, mesmo que ele não tenha condições de se sustentar sozinho?
Se alguém me ofender e ameaçar, tenho o direito de mandar matá-lo preventivamente?
No âmbito dos conflitos entre as nações, nas guerras familiares, nos atritos que temos com qualquer pessoa, é fundamental nos perguntarmos: as justificativas que dou ou escuto são mesmo aceitáveis? Estou sendo humilde a ponto de tentar ver este conflito na perspectiva do outro? Se no íntimo do meu coração eu reconheço que as justificativas apresentadas não são de fato aceitáveis, devo me omitir e calar?
Marcos Vieira Monteiro