Palavra Pastoral – UMA SOCIEDADE IMPESSOAL

A palavra impessoal tem diversos significados. Dependendo da maneira como é empregada pode até mesmo expressar uma virtude e uma prática que concede a todos, no contexto social, um tratamento igualitário diante das leis e das oportunidades.

Por outro lado, a impessoalidade se manifesta cada vez mais na sociedade contemporânea. Qual dentre nós não passou pela experiência de ir a um órgão público ou agência bancária e a pessoa que nos atende dá um número de telefone, indica um aplicativo ou um site para sermos atendidos por um robô? Este atendente muitas vezes declara que não tem meios para que ele mesmo resolva o que estamos solicitando. Então voltamos para casa e passamos mais 1 hora no celular tentando falar com alguém de “carne e osso” que solucione o nosso problema.

É muito comum que ao lhe oferecer um produto, a venda de um plano telefônico ou de saúde, você seja contatado pessoalmente. Porém, quando você tenta cancelar este contrato é quase impossível conseguir um atendimento pessoal.

Quem não tem um mínimo conhecimento ou acesso ao mundo virtual hoje, muitas vezes enfrenta grandes dificuldades para se inscrever em um concurso, marcar uma consulta médica, pagar seus tributos ao governo, conseguir licença para trabalhar ou comprar uma passagem aérea. Os mecanismos de segurança cibernética têm dificultado até mesmo o que no passado era relativamente simples.

Em nossa igreja, luto constantemente para que a tecnologia seja uma ferramenta complementar e que não deixemos de lado jamais, a oportunidade de nos conectarmos uns com os outros pessoalmente. Esta, inclusive, é uma das razões pelas quais nunca contratamos uma secretária eletrônica ou um serviço de telefonia sem uma secretária que é uma pessoa real.

Nestes tempos pós pandemia tenho o privilégio de retomar as visitas aos meus irmãos em Cristo. Ontem e anteontem por exemplo, estive viajando no interior do Ceará e pude ir à casa de alguns de nossos missionários. Como foi bom estar com eles em torno de uma mesa tomando um café, com aquele contato “olho no olho”, ouvindo seus relatos de lutas, desafios e vitórias! Não há recurso tecnológico que substitua esta experiência.

É cômodo participar de uma reunião on line, ouvir uma palestra ou um sermão pela internet, mas esse tipo de experiência é muitíssimo mais pobre no quesito fortalecimento dos laços emocionais e até mesmo espirituais.

O ensino EAD é uma “faca de dois gumes”. Por um lado, leva o conhecimento a pessoas que vivem em lugares distantes e que não teriam condições de estar presencialmente em uma sala de aula. Por outro lado, não possibilita uma interação mais profunda entre colegas, professores e alunos. Em muitas áreas do saber humano a prática pessoal é fundamental. Temo pela qualificação e formação de profissionais, em determinadas áreas, que envolvem um relacionamento mais pessoal na prestação do serviço.

Tenho a impressão de que Deus prefere o contato pessoal. Na Bíblia temos o registro de diálogos entre Deus e seus escolhidos chamando-os pelo nome. A sua revelação máxima em Jesus de Nazaré foi pessoal. Nosso mestre abençoava, curava e falava às multidões, mas ele investiu significativo tempo e atenção a um restrito grupo de 12 discípulos.

É o princípio da pessoalidade um dos pilares da importância das “células” ou “pequenos grupos” em uma igreja. É uma das bases para discipulado “um a um”. É um dos alicerces para o estudo das Escrituras em uma classe da Escola Bíblica. É uma das razões pelas quais nós, pastores, reservamos um tempo para atendimento individual no “gabinete pastoral”. É uma das razões pelas quais insisto na importância da vinda ao templo para participar presencialmente dos cultos.

Não temos como fugir da impessoalidade no contato com empresas, órgãos governamentais e em várias outras áreas de nossas vidas atualmente, porque vivemos em uma sociedade cada vez mais impessoal. Podemos, entretanto, criar “bolsões de resistência” na igreja e em outros contextos.

Mesmo usando este recurso que nem sempre é tão pessoal, como o whatsapp, sugiro que você valorize e priorize o contato pessoal com seus clientes, amigos, familiares e irmãos em Cristo. Geralmente isso requer mais tempo e energia, mas eu lhe garanto que vale a pena!

Marcos Vieira Monteiro

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