Neste 1 ano e meio de pandemia, vivemos as mais diferentes fases e inéditas experiências. No início estávamos diante de um inimigo desconhecido e aterrador. Dentro e fora de casa, aquela sensação psicológica de estar vivendo uma experiência surreal: perda da noção do tempo, ruas vazias, planos cancelados abruptamente, proibição de sair e se locomover livremente, lojas fechadas, notícias de hospitais superlotados e sem a infraestrutura para receber tantos doentes ao mesmo tempo, templos vazios, ameaças de saques, cemitérios cheios, falecimentos sem velório…
Logo depois, os debates intermináveis sobre a eficiência de determinados medicamentos e tratamentos. Depois de um tempo, o alívio, com os números de casos e mortes diminuindo.
Então veio a segunda onda da pandemia, maior do que a primeira. Profissionais da área de saúde trabalhando no limite, o desgaste de tanto tempo em “home office” e a ausência dos contatos sociais… Quem saía nem sempre se sentia seguro… O sentimento de revolta com as festas clandestinas e muita gente circulando sem os devidos cuidados. Os números de mortes voltaram a crescer, pessoas queridas morrendo, não apenas idosos e com comorbidades. Novo tempo de medo e luto.
Depois, vieram as notícias de outros lugares do mundo que começavam voltar à normalidade. Veio então um sopro de esperança: “Se eles estão conseguindo, vai chegar a nossa vez”. As novas perspectivas com a vacinação. O acirramento das brigas políticas e ideológicas. Os números de vacinados aumentando. Os debates intermináveis sobre a reabertura das escolas. A descoberta de que vacinar-se não era necessariamente o passaporte para total liberdade. Até que as críticas e medos foram cedendo lugar à esperança, com a diminuição dos números de casos e mortes. O retorno gradual de todas as atividades e o enfrentamento do “novo normal”.
Hoje, em Fortaleza, as ruas estão novamente cheias. Os engarrafamentos de trânsito, com dezenas de vias em obras, voltaram com força total. Os restaurantes, mesmo com os novos protocolos de segurança, lotados. As atividades ministeriais nas igrejas retornando. A frequência aos cultos crescendo. A volta às aulas vai trazendo mais alívio para os pais e alunos. O receio de contaminação vai diminuindo. Mas será que, como sugere aquela antiga canção: hoje tudo está igual como era antes, “quase nada se modificou”?
Na verdade, há muitas mudanças ao nosso redor. Não falo necessariamente de mudanças comportamentais profundas. A realidade mudou não apenas como consequência direta da pandemia, mas simplesmente pelo passar do tempo. Bebês se tornaram crianças que hoje estão correndo e falando. Há bebês que não tiveram a oportunidade de conhecer o berçário de sua igreja e frequentar uma creche porque cresceram. Crianças se tornaram adolescentes. Adolescentes terminaram o segundo grau e hoje são jovens universitários. Namoros foram desfeitos. Novos amores afloraram. Famílias se fortaleceram na convivência mais intensa e outras se dilaceraram. Jovens se casaram e casais se divorciaram. Uns enfraqueceram na fé e outros descobriram a fé.
Alguns experimentaram milagres e já se esqueceram do que Deus lhes concedeu. Outros, mesmo vivendo a dor de uma oração não respondida, a perda de pessoas queridas, sentiram mais de perto o cuidado de Deus e fortaleceram sua confiança nEle.
Houve quem conseguiu guardar dinheiro na pandemia e comprar um bem que tanto desejava. Outros perderam o emprego e o seu sustento. Empresários ampliaram os seus negócios. Empresários faliram.
Obviamente, neste tempo da pandemia, tendo ou não sido contaminados pela covid, não estamos com a mesma idade de março de 2020. Todos envelhecemos. Nossa saúde hoje pode estar melhor ou pior, dependendo de como dela cuidamos, e de fatores que fogem ao nosso controle. Muitos dentre nós optaram por adiar exames, consultas e isso pode trazer sérias consequências.
A verdade é que nem tudo está exatamente igual como era antes. Experimentamos mudanças em nosso corpo. Vivenciamos mudanças ao nosso redor: lojas antigas fechadas e novas foram abertas, programações novas em novos horários nas escolas e nas igrejas, pessoas queridas que se mudaram para longe e outros que chegaram para perto de nós, novas habilidades que adquirimos, dúvidas sobre questões simples: Como cumprimentar as pessoas agora? Que ambientes frequentar? Onde trabalhar? Em casa ou no escritório? Como se reunir com mais eficácia? Presencialmente, on line ou de modo híbrido?
Estamos vivendo ainda um processo de readaptação a uma realidade que mudou tanto pela existência da pandemia, quanto pela simples passagem do tempo. Isso não acontece do “dia para a noite” e nem sempre é fácil.
Nestes dias, talvez mais do que em qualquer outra época de nossa história pessoal e comunitária, precisamos da especial sabedoria de Deus. Por isso, oremos. Peçamos que nos ilumine para identificarmos as prioridades, para agirmos com coragem e cautela quando necessário, para cuidarmos bem de nossa saúde física, mental, emocional e espiritual. Que sejamos tolerantes com todos ao nosso redor. Cada um tem o seu ritmo próprio vinculado ao seu temperamento e experiências que viveu nos últimos meses.
Quando a pandemia terminar, tudo vai estar igual como era antes? Não. É impossível voltar ao passado. Vivamos cada dia com a graça de Deus neste dia, sem medo do futuro.
Marcos Vieira Monteiro