Meu amigo de longa data, Juracy Carlos Bahia, postou um vídeo com este título no site “Armazém do Ânimo,” no qual ele compartilha uma experiência vivida em família. Era um tempo gostoso com menos regras. Não havia a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança. Juracy e Cristina, como muitos pais de nossa geração, preparavam as “caminhas” no banco de trás de um fusquinha e colocavam ali seus três filhos. Depois de algum tempo de viagem um deles perguntava: “Pai, vai demorar?” Juracy dava uma desculpa qualquer e dez minutos depois, outro filho perguntava de novo: “Pai, vai demorar?”
Enquanto eu lia o seu relato eu me lembrei das maravilhosas viagens de carro nas férias com nossos filhos pequenos.
Uma vez fomos de Fortaleza (CE) até Paranaguá (PR), parando ao longo do caminho na casa de parentes e amigos na Paraíba, Minas, São Paulo e Paraná… Uma viagem de aproximadamente 12.000kms (ida e volta). Como os filhos do Juracy, os nossos também faziam esta mesma pergunta: “Pai, vai demorar?” Quando faltavam uns 40 kms para, finalmente, chegarmos em casa, depois de quase 1 mês viajando, Ana Beatriz, que devia ter uns 9 anos de idade, exausta de tantas horas dentro do carro, deu um “chilique” e começou a gritar: “Eu não aguento mais, eu quero chegar em casa, eu quero minha casa! Eu quero minha cama! Não chega nunca!”
O que ela não conseguia perceber é que agora, na verdade, estávamos “quase chegando”. Faltavam apenas uns 30 minutos. Naqueles dias não tínhamos GPS, mas eu sabia onde estávamos e disse para ela: “Minha filha, calma. Papai vai colocar aqui um CD no som e antes que este CD acabe de tocar vamos chegar em casa”. Aí ela se acalmou.
Acho que nestes dias de isolamento social muitos de nós já fizemos para o nosso Pai Celestial esta mesma pergunta: “Pai, vai demorar?”
Quando saímos correndo com computadores para o trabalho home office, deixando para trás tantas coisas nos escritórios, ao decidirmos suspender os cultos por “três domingos”, não tínhamos ideia de quão longo seria este tempo…
Quando retornaremos a uma situação de “normalidade”? Aliás, o termo agora é “novo normal”, referindo-se ao tempo que virá depois desta pandemia. Mas quando chegaremos ao este “novo normal”? Quando poderemos nos reunir com absoluta tranquilidade, sem nos preocuparmos com distanciamento social, com o uso de máscaras e álcool gel? Quando nos sentiremos seguros para um abraço e um beijo no rosto de quem amamos? Quando realizaremos os cultos presenciais sem medo de uma contaminação? A pergunta que ecoa lá no fundo de nossa alma infantil é a mesma: Pai, vai demorar?
Parece-me que tem gente que já começa a ter a mesma reação da Ana Beatriz: “Eu não aguento mais!” E a minha resposta é: calma!
As incertezas são muitas, mas mesmo sem saber quanto tempo de viagem temos pela frente com o coronavirus perto de nós, creiamos que nosso Pai Celestial sabe, mesmo que Ele ainda não nos tenha revelado.
Neste tempo de tantas perguntas sobre o futuro, consola-me a certeza de que Ele estará conosco durante todo o percurso, mesmo que seja mais longo do que imaginávamos.
Que Deus nos conceda a graça de viver um dia de cada vez sem nos deixarmos dominar pela angústia infantil que anseia por saber quanto tempo falta para chegar ao fim deste trecho da nossa viagem aqui na terra.
Marcos Vieira Monteiro