Sabe quando alguém diz o que você queria dizer, mas se expressa melhor do que você faria? Pois bem, ontem a noite recebi um texto assim de minha sobrinha Nina, que mora em Belo Horizonte. Ao lê-lo, decidi partilhar com você estas palavras escritas com a especial sensibilidade de uma adolescente de 14 anos. Compartilho porque, provavelmente, você não teria acesso a este texto que me tocou de forma especial e também porque conheço seus personagens.
“Ontem, fui levar um lanche para meu avô, só deixar os pães na casa dele. De máscaras e luvas, eu e minha família batemos a porta e ele e minha avó abriram. Passamos as sacolas e dissemos para lavarem as mãos e passarem álcool. Meu avô perguntou se não queríamos entrar um pouquinho e tomar um café, já estava até pronto! Paramos por um instante, tentados a aceitar a proposta. Mas então, lembramos que é tempo de ficar longe. Com o coração apertado, negamos. Eles compreenderam e minha avó deu uma xícara de café aos meus pais. Meu avô disse a mim e a minha irmã: “Como eu gostaria de dar um abraço em vocês agora.” De tudo isso, que na verdade foram poucos minutos, foi essa frase que mais me tocou. Quantos abraços eu dei no meu avô, sem pensar na importância deles? Quantas vezes menosprezei o toque de alguém querido, por estar com pressa ou distraída? E o que vale mais que esse abraço e toque, especialmente agora?
Acredito que o mundo se dividirá em antes e depois dessa pandemia, e eu espero isso. Antes, priorizávamos as obrigações; depois, priorizaremos as pessoas. Antes, reclamávamos do trânsito; depois, agradeceremos a liberdade de ir e vir. Antes, muitos trabalhos eram diminuídos; depois, perceberemos a importância de cada ofício. Antes, desvalorizávamos nossos familiares; depois, valorizaremos cada segundo. Antes, preferíamos as palavras; depois, preferiremos as demonstrações. Antes, competíamos para sermos os melhores; depois, nos uniremos para superar os danos dessa crise. Antes, queríamos uma vida boa e confortável; depois, ter vida nos bastará. Antes, tínhamos sempre que adiar; depois, entenderemos que o amanhã pode não existir. Antes, o dinheiro valia muito; depois, e creio que agora também, o contato pessoal vale mais, certo?
Não sei quando isso vai passar. Não sei o que é passar por esse isolamento realmente saudável, mental e fisicamente. Não sei como está a convivência nos lares. Não sei se o mundo vai de fato mudar. O que sei, é que quando tudo isso passar, abraçarei meu avô e vou valorizar e agradecer por cada momento. Cada momento junto a quem amo… Porque, o que vale mais? Dinheiro ou saúde? Trabalho ou família? Rotina ou encontros? Poder ou amor? Afinal, o que vale mais do que um abraço?”
*Texto de Nina Monteiro Evangelista,. A foto acima é da Nina com os seus avós, Pr. Jonair e Isabel. Isabel é autora do excelente livro: “O Poder do Abraço”
Marcos Vieira Monteiro