Parece-me que nunca ouvimos e nunca falamos tanto sobre tantos assuntos. Como temos ouvido vozes discordantes!
Nos meus contatos no whatsapp tenho amigos e irmãos de correntes ideológicas opostas. Já sei que tipo de mensagem vou abrir somente ao conferir quem está me encaminhando aquele texto ou vídeo. Aprecio ter diferentes opiniões e perspectivas. Ouvir apenas quem concorda comigo nem sempre me acrescenta muito. Porém, neste tempo tenho ouvido vozes discordantes em áreas em que eu esperava um maior consenso. Por exemplo: informações e orientações na área da saúde e tratamento do coronavirus.
Chego a pensar que podemos passar este tempo da pandemia e termina-lo sem saber de fato o que é eficaz ou o que é mito sobre um combate efetivo à covid 19. Usar ou não hidroxicloroquina? Lockdown: qual a sua real eficácia? Isolamento vertical ou horizontal? As recomendações da OMS são baseadas exclusivamente na ciência? É fato que assintomáticos não transmitem a doença? Lembram? Até sobre o uso das máscaras, nos primeiros dias da doença aqui no Brasil, não havia consenso sobre sua real necessidade…
Ouvimos também dos líderes religiosos diferentes interpretações sobre esta pandemia. É lamentável que, frequentemente, a imprensa (propositalmente ou por ignorância) nos coloque todos em uma “vala comum”. Entre nós, que lideramos comunidades de fé, há grandes diferenças não apenas teológicas, mas de posturas sobre como enfrentar a situação.
Não temos como evitar receber determinadas informações, mas precisamos filtrar tudo o que recebemos. A realidade atual nos trouxe tantas questões novas que não é sábio confiar cega e exclusivamente na opinião de uma só pessoa, até mesmo um “especialista”. Mais do que nunca somos desafiados a pensar, a ponderar, a ouvir vozes discordantes para se chegar a conclusões menos imaturas. Por outro lado, devemos estar sempre questionando as nossas próprias opiniões sobre diversos temas e ter a coragem de assumir em determinados momentos: eu estava equivocado.
Devemos nos dar um tempo e admitir para nós mesmos: sobre este assunto eu ainda não tenho uma opinião formada. Qual o problema? Por que ter pressa em chegar a uma conclusão e apresenta-la como “a verdade” que deve ser defendida a todo custo? Que ilusão! Pensamos que podemos ser, ao mesmo tempo, excelentes economistas, empresários, médicos, cientistas, sanitaristas… e sair por aí dando conselhos para “todo mundo”.
Existem verdades sobre as quais tenho procurado edificar a minha vida que não são questionáveis para mim: o cuidado de Deus, a graça divina, a veracidade e autoridade da Bíblia Sagrada, a fé em Jesus Cristo, a certeza da vida eterna, a importância da solidariedade, o valor do Reino de Deus e tantos outros pilares existenciais.
Talvez seja o momento de cada um de nós, como cristãos, pararmos e nos perguntarmos: o que tenho priorizado nestes dias? O fortalecimento de minhas convicções existenciais ou a divulgação de minhas opiniões sobre assuntos que nem domino bem? O que tenho repassado com maior frequência: mensagens sobre verdades completamente inquestionáveis para qualquer cristão autêntico ou assuntos controvertidos com a roupagem de verdades inquestionáveis?
Houve um tempo em que dizíamos que para evitar as fake news deveríamos questionar muito as informações recebidas via whatsapp, até mesmo as enviadas por uma titia ou vovó querida. Que o correto seria checar estas informações em fontes oficiais e na grande imprensa. Esta crise mostrou com uma clareza impressionante que as notícias que recebemos, mesmo por estas vias, não são plenamente confiáveis.
Portanto, reflita sobre tudo o que tem ouvido. Não negligencie a sua capacidade de pensar. Separe em sua mente o que são as convicções inquestionáveis de suas opiniões temporárias. Seja cuidadoso com o que você está espalhando por aí. Priorize a divulgação de suas convicções bíblicas, que certamente são muito mais relevantes do que suas opiniões.
Concluo com a sabedoria de Provérbios: “a boca do justo é fonte de vida, mas a boca dos ímpios abriga a violência” (Pv. 10:11). “Os sábios acumulam conhecimento, mas a boca do insensato é um convite à ruína.” (Pv. 10:14)
Marcos Vieira Monteiro