Moïse Kabagambe chegou ao Brasil com sua família em 2011 fugindo da guerra no Congo, sua terra natal. Ele veio para o Rio de Janeiro atraído pela “hospitalidade brasileira”. Hoje, seus familiares, com os corações dilacerados, desejam deixar o nosso país.
Este jovem congolês, de apenas 24 anos, na noite do dia 24 de janeiro foi brutalmente assassinado em um quiosque na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. As câmeras de segurança registraram que ele foi espancado por três homens, durante aproximadamente 20 minutos. Na maior parte desse tempo já estava desfalecido, sem nenhuma capacidade de reação. Segundo sua família ele tinha ido até o quiosque cobrar uma dívida de R$ 200,00 por serviços prestados ali.
Não há nenhuma evidência que o rapaz tivesse qualquer envolvimento com tráfico de drogas. Ele era um trabalhador negro, refugiado africano, buscando sobreviver de forma digna em nosso país.
René Robert, de 84 anos, no dia 19 de janeiro deste ano, por volta das 21h, caiu inanimado durante sua caminhada em uma das ruas mais movimentadas de Paris. Segundo a imprensa local não é possível apurar se ele tropeçou, teve uma tontura ou desmaiou. Permaneceu cerca de 9 horas estendido no chão na Rue de Turbigo. Ninguém o socorreu. No dia seguinte, pela manhã, um morador de rua, chamou o Corpo de Bombeiros. René Robert foi levado para um hospital, mas já estava morto. Diagnóstico: “hipotermia grave”.
Este homem era um fotógrafo de destaque na sociedade parisiense, que atuava na capital da França desde os anos 60, publicou revistas e livros com suas fotos e doou milhares de retratos à Biblioteca Nacional Francesa.
O jornalista Michel Mompontet, em um editorial na televisão pública da França, ainda em choque com a notícia da morte do amigo, confessou: “Em vez de dar lições e acusar quem quer que seja, há que se responder a uma pergunta incômoda: e se eu tivesse me deparado com um homem deitado no chão, estou certo a 100% de que teria parado para ajudar? Nunca me desviei de um sem abrigo encostado à minha porta? Não estou certo a 100% e isso é uma dor que me persegue. Mas temos pressa. Temos pressa, temos as nossas vidas e viramos a cara.”
Segundo este jornalista “estamos perante um exemplo trágico de uma sociedade cada vez mais autocentrada, incapaz, sequer, de estender a mão a pessoas sem abrigo que se multiplicam na França e Europa afora. A menos que se aprenda alguma coisa com esta morte. Quando uma pessoa está deitada no chão, mesmo que estejamos com pressa, vamos ajudá-la. Vamos parar.”
O que a morte de um idoso famoso em uma noite fria de Paris, que pode ter sido confundido com “morador de rua”, e a de um jovem refugiado congolês na Barra da Tijuca tem em comum? A indiferença. A terrível e pecaminosa indiferença com o sofrimento alheio.
Pessoas viram o idoso caído no chão e passaram adiante. Pessoas assistiram um jovem sendo linchado e não foram capazes de acionar imediatamente a polícia ou interferir pessoalmente, impedindo os atos de violência.
Peçamos a Deus por nós mesmos e pela sociedade onde vivemos. Que em um país onde predomina o ateísmo ou em um país que se considera “cristão”, olhemos com sensibilidade para os que estão sendo injustiçados ou em situação de vulnerabilidade.
Deus, que tenhamos a coragem necessária para intervir sempre que possível. Que a pressa não nos impeça de parar e, à semelhança do bom samaritano, ajudar aquele que está caído em nosso caminho.
Marcos Vieira Monteiro