Uma das lembranças agradáveis que quase todos nós temos (ou talvez todos nós) é a da troca de olhares nos tempos de infância, pré-adolescência e adolescência.
No meu caso a primeira experiência inesquecível que tenho de troca de olhares não foi com uma garota, mas com minha mãe. Algumas vezes quando eu estava fazendo alguma coisa errada ou apenas planejando fazê-la, com o seu radar materno, ela identificava minha intenção. Dependendo do local (na hora do culto na igreja, por exemplo) mamãe não precisava dizer nada. Bastava olhar seriamente para mim e eu já entendia tudo. E se fizesse de conta que não estava entendendo mais tarde lá em casa eu entenderia… Hoje em dia tem mãe que corre o risco de ficar estrábica tentando se comunicar com o filhinho que continua se “fazendo de desentendido”
Existem também muitas lembranças de outras trocas de olhares mais agradáveis do que esta. O garoto se interessava por uma menina. Ele não a conhecia, nem sabia o seu nome, mas ela o atraia. Então, na sala de aula, no pátio do colégio, no templo, em uma roda de conversa com a turma, na praia, em um restaurante, em qualquer lugar… ele olhava para ela com olhar de curiosidade e admiração. De repente, ela também olhava para ele. E então ele desviava o olhar. Depois de alguns minutos ele olhava para ela de novo e percebia que ela estava olhando para ele. E ela então desviava o olhar. Quem não viveu isso? Talvez você até se lembre especificamente desta paquera visual com alguém que você nem chegou a namorar e nem sequer soube qual era o seu nome. Às vezes esta troca de olhares terminava quando iniciava o namoro, porque agora eles estavam um ao lado do outro, o que inviabilizava definitivamente a continuação deste “jogo”.
O amor frequentemente começa com um olhar. Esta é a nossa primeira forma de interação com a maioria das pessoas.
O nosso relacionamento de amor com Deus também começa e persiste por meio do olhar. O olhar divino. Ele está olhando para cada um de nós, desde o nascimento até o momento do nosso último suspiro aqui na terra. Ao amanhecer, quando abro os meus olhos, Ele está olhando para mim. Durante todo dia, esteja eu percebendo esta realidade ou não, Ele continua olhando para mim. Ao me deitar e dormir, como uma mãe amorosa que contempla seu bebê dormindo, Ele permanece com seus olhos sobre mim. E na madrugada, quando o meu sono é profundo, Ele ainda está olhando para mim porque Ele trabalha no turno da noite. Também, quando entro no meu quarto e fecho a porta para conversarmos, Ele vê, e não somente ouve, a minha oração (Mateus 6:6).
E eu, para onde estou olhando nestes dias?
Quantos de nós fixamos o nosso olhar apenas nas telas à nossa frente. E o que vemos ali? Notícias pessimistas, alarmistas, editadas para provocar o medo. “Hoje, mais um recorde de mortos no Brasil”, “Vai demorar 1 ano para acabar a pandemia…” “200 cidades em confusão nos EUA em protestos contra o racismo. ” Recebemos diariamente centenas de mensagens em nossos celulares. O que nossos olhos veem? Tristes notícias e prognósticos negativos ou o que nos levam a desviar o nosso olhar para Deus.
Tantos nestes dias de solidão têm fixado o seu olhar em imagens e textos que levam ao pecado da lascívia…
Os salmos frequentemente nos convidam a retribuirmos o olhar de Deus para nós:
“Mas, os meus olhos estão fixos em ti, o Soberano Senhor, em ti me refúgio, não me entregues à morte” (Salmo 141:8)
“Levanto os meus olhos para os montes e pergunto: De onde me vem o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra.” (Salmo 121:1,2)
“A Ti levanto os meus olhos, a Ti que ocupas o teu trono nos céus. Assim como os olhos dos servos estão atentos à mão do seu senhor, e como os olhos das servas estão atentos à mão de sua senhora, também os nossos olhos estão atentos ao Senhor, o nosso Deus, esperando que ele tenha misericórdia de nós.” (Salmo 123:1,2)
Deus está olhando para nós o tempo todo. Que eu e você também possamos retribuir este olhar, esperando socorro do todo poderoso Rei e que possamos perceber o mover de sua mão derramando misericórdia.
Deus nunca vai desviar o olhar fazendo de conta que não está interessado em estabelecer e cultivar um relacionamento de amor conosco.
Marcos Vieira Monteiro