O respeito tem muitas facetas. Na semana passada relembrei que respeitar o próximo não significa jamais discordar. Podemos respeitar uma pessoa e lhe dizer corajosamente: “Este comportamento seu está errado! Seu posicionamento está equivocado.” Podemos fazer este tipo de afirmação apenas quando possuímos um referencial seguro, quando cremos que existem verdades absolutas estabelecidas e reveladas por Deus. Este padrão que nos indica o que é correto e o que é errado é a Bíblia Sagrada.
Martin Luther King combateu o racismo a partir de suas convicções bíblicas. Missionários cristãos na Índia, no século passado, insistiram que enterrar as viúvas de homens mortos juntamente com eles era um assassinato e portanto, um pecado, a partir do seu entendimento das Escrituras. Muitos cristãos defendem que o aborto é um crime, por sua compreensão do valor da vida humana em uma perspectiva teológica.
Podemos e devemos discordar com elegância, sem xingar ou ofender o nosso mais duro adversário.
A Bíblia não apresenta leis detalhadas para os nossos dias em todas as áreas da vida. Existem decisões sobre as quais não é simples afirmar: “esta é a vontade de Deus”. Não são poucos os pretenciosos que pensam que tem o monopólio do conhecimento em todas as áreas do saber humano.
A palavra respeito tem como origem a palavra do latim “respectus”, cujo significado original é “olhar outra vez”. Esta é uma atitude que revela humildade. Significa que temos que admitir que podemos estar errados em nossos posicionamentos, em áreas sobre as quais não possuímos uma orientação específica da Bíblia.
Diante da realidade que os cerca dois cristãos autênticos podem ter opiniões bem divergentes sobre política, medicamentos a serem utilizados em uma pandemia, acerca da eficácia das vacinas, sobre que medidas são necessárias numa situação em que a pandemia da covid ainda não foi totalmente debelada e que tem retornado com força em determinados países…
Entendo que devemos tratar com todo respeito aqueles que estão relutantes em sair de casa para tentar voltar a uma situação de “normalidade”. Do mesmo modo devemos ser compreensivos e respeitosos com aqueles que são mais liberais em seu comportamento nesta área. O posicionamento de cada um depende de muitos fatores: temperamento, de que maneira a covid afetou a sua vida pessoal e de sua família, crença na eficácia das vacinas, traumas, desgaste físico e emocional depois de tanto tempo de isolamento social, grau de confiabilidade nas notícias que recebe pela imprensa oficial e nas redes sociais e muitos outros fatores.
Precisamos ser sensíveis e respeitosos com todos. Há quem não se sinta preparado para receber uma visita em sua casa, cumprimentar os amigos de forma mais afetuosa, fazer uma refeição em um restaurante, participar de um pequeno grupo presencial, voltar a servir em um ministério ou até mesmo participar de um culto no templo.
No retorno às atividades de nossa igreja não tenho a ilusão de que teremos unanimidade sobre como devemos proceder. Temos diferentes opiniões sobre nossa realidade atual e sobre as perspectivas futuras. Neste contexto é importantíssimo respeitarmos os temores dos nossos irmãos e as decisões de cada um sobre qual o tipo de risco que desejam se expor.
O que lhes asseguro é que o retorno será gradual e pode eventualmente haver algum recuo caso haja uma mudança de cenário para pior.
Não podemos também retornar com “força total” porque dependemos muito da disponibilidade de dezenas de voluntários. Muitos deles estão abatidos e outros ainda temerosos quanto as questões de segurança. Há também aqueles que estão “ansiosos” para voltar a servir. Com estes estamos contando neste momento.
Se no início do ano passado parar abruptamente muitas das atividades da igreja foi traumático e difícil, o retorno agora também não é fácil. Como carecemos da sabedoria de Deus!
Esperamos que haja respeito às decisões que forem tomadas pela liderança da igreja. Respeito aos que ainda não se sentem preparados para o retorno das atividades presenciais. Que ninguém se sinta pressionado para participar de qualquer programação que promovermos se não estiver ainda pronto para isso. Respeito aos que se sentem plenamente seguros e prontos para participarem do que for proposto.
Estamos buscando trilhar o caminho da oração e da escuta aos anseios da nossa comunidade de fé. Entendemos que cada um tem o direito de expor seu ponto de vista, suas expectativas e temores. Estamos atentos aos questionamentos, sensíveis às preocupações de cada um e desejosos de agir sempre com profundo respeito aos sentimentos de todos. Que Deus nos ilumine diante desta nova realidade, tem sido minha constante oração.
Marcos Vieira Monteiro