Há muitos anos, quando minha mãe e depois a minha avó ficaram doentes, tive a oportunidade de dar uma pequena ajuda a elas. Foi uma ajuda muito pequena porque na maior parte do tempo de suas enfermidades eu morava em Teófilo Otoni e em Fortaleza. Elas residiam em Belo Horizonte. Não me considero, portanto, uma pessoa que tem uma grande experiência no cuidado de enfermos.
Mesmo com esta limitação eu me recordo bem dos dias e noites que passei no hospital com mamãe, quando ela estava se recuperando de uma delicada cirurgia no cérebro e anos depois quando veio a falecer. Vovó também, no fim da sua vida, passou vários dias hospitalizada. Aquele tempo que passei ao lado delas, embora relativamente curto cronologicamente, parecia um tempo longo demais…
A noite mais dolorosa de minha vida foi ao lado de vovó Nair em um hospital. Ela gemia de dor e a médica não conseguia prescrever um remédio que aliviasse seu sofrimento e ainda me pedia calma. Senti-me aliviado somente quando, ao amanhecer, conseguimos a sua transferência para outro hospital que permitiu administração de morfina.
Recordo-me que no final de cada plantão no hospital, tendo passado a noite em uma cadeira sem poder fazer nenhum ruído porque o sono da mamãe era muito leve, eu me sentia completamente esgotado física e emocionalmente.
O desgaste era enorme e às vezes parecia que aquilo que eu estava passando não era real e sim um pesadelo.
Cuidar de uma pessoa doente em casa ou no hospital, especialmente uma doença prolongada, é uma das experiências mais difíceis que podemos vivenciar.
Noites mal dormidas em corredores de hospital, em cadeiras desconfortáveis ou pequenas camas improvisadas. Insegurança quando o diagnóstico ainda é indefinido. Preocupações quando o enfermo parece não estar reagindo. Desgaste quando a equipe de enfermagem ou médica parece ser ineficiente ou insensível. Exames com as taxas muito alteradas. Recaídas…
Depois de algum tempo o cansaço vai se acumulando tanto que o cuidador acaba sendo alguém que também precisa ser cuidado.
Mesmo amando muito aquele doente que necessita de nossa presença e cuidados, não podemos esquecer que somos humanos. Aliás, amando muito podemos até nos sentir mais esgotados ao cuidarmos de um parente chegado ou amigo, por conta de nosso envolvimento emocional.
Depois de quase dois anos de pandemia muitas pessoas estão sendo hospitalizadas. Cirurgias eletivas foram adiadas. Alguns estão tratando sequelas da covid e outros problemas de saúde que foram sendo postergados. Estes enfermos precisam ser cuidados. Como estão seus cuidadores?
Na medida do possível o cuidador deve cuidar de sua própria saúde. Cuidando de si certamente terá mais condições de cuidar dos seus queridos.
O cuidador deve observar seus limites físicos e emocionais. Sempre que possível pedir ajuda a outros parentes, amigos e irmãos em Cristo. Se ficamos esgotados perdemos a nossa capacidade de ajudar.
Mesmo investindo muito tempo no cuidado com o parente, o cuidador precisa de tempo para si. Tempo para renovar suas forças. Tempo de descanso, de distração e até mesmo de lazer. Ele precisa se cuidar para não “adoecer” junto com a pessoa que é alvo do seu cuidado. Conversar com um psicólogo, um capelão ou um amigo sábio e amoroso pode ser muito útil.
Se não estamos enfrentando este tipo de situação em nossa família devemos considerar a possiblidade de oferecer ajuda aos cuidadores. Levando um prato especial para eles, saindo com seus filhos, oferecendo-se para ser acompanhante do enfermo no hospital ou em casa por uma tarde ou uma noite…
O cuidado dos cuidadores envolve o autocuidado e a nossa sensibilidade para auxiliá-los como for possível. Oremos por eles e nos prontifiquemos a ajudá-los.
Marcos Vieira Monteiro