É menos comum fazermos esta pergunta ao vivermos momentos muito felizes. Se estamos de férias em um local maravilhoso, em uma festa com amigos, um churrasco com a família, ouvindo uma pregação que nos impacta, participando de um culto inspirativo, namorando, vendo um bom filme… enfim, em situações que nos trazem alegria e prazer, não nos preocupamos com o tempo. Ele parece passar muito rápido.
Geralmente fazemos a pergunta: “até quando?” ao entrarmos em um hospital ou em uma clínica médica e ficamos esperando atendimento, ao esperarmos no “ponto do ônibus”, tarde da noite, o transporte que nos levará para casa depois de um cansativo dia de trabalho, ao sermos informados que os testes deram positivos e que precisaremos iniciar severo tratamento de saúde, ao experimentarmos o luto por alguém querido que se foi…
Nesta pandemia quantas vezes fizemos e ainda estamos fazendo esta pergunta: “Até quando?” Pensávamos inicialmente que seriam poucas semanas. Depois imaginamos alguns poucos meses. Agora, estamos completando dois anos de mudança em nossa rotina, de tantas perdas e dúvidas…
Os questionamentos de Davi transformados em um poema, musicalizados pelo líder da música do coral do palácio, estão registrados no Salmo 13. Quatro vezes o grande rei de Israel fez esta mesma pergunta a Deus.
“Até quando, Senhor? Tu te esquecerás de mim para sempre? Até quando esconderás o rosto de mim? Até quando relutarei dia após dia com tristeza em meu coração? Até quando o meu inimigo exultará sobre mim?” (Salmo 13:1, 2).
Davi vive uma profunda crise emocional e espiritual. Sua primeira pergunta é: “será que Deus se esqueceu de mim? Quanto tempo vai durar esta amnésia divina?” Ele duvida da onisciência de Deus.
O segundo “até quando” é também teológico. Ele se pergunta até quando, propositalmente, Deus vai “virar a cara” para o outro lado e se recusar a vê-lo com a sua dor? Ele certamente se lembra da promessa divina que a luz do rosto dEle brilharia sobre os seus filhos. Esta situação o deixa perplexo.
O terceiro “até quando” é um questionamento que o salmista faz acerca de si mesmo. “Até quando vou ficar sofrendo sem conseguir me desvencilhar da tristeza?” Ele fica o tempo todo focando o seu problema e acariciando a sua dor pessoal. Com todos que tem contato fala de sua angústia e não consegue encontrar consolo.
O quarto “até quando” se refere a uma sensação de que está perdendo uma batalha contra algum inimigo. “Até quando o inimigo se exaltará sobre mim?” Esse inimigo pode ser outra pessoa, uma enfermidade prolongada, um contexto social desfavorável que o humilha e dificulta sua ascensão profissional…
A seguir o salmista faz uma oração. Como destacou Ebenézer Bittencourt, em um estudo sobre este salmo: “Davi se agarra em um Deus que ele desconfia não estar presente.” Ele não desiste de pedir ajuda de Deus mesmo com o coração cheio de dúvidas sobre o interesse de Deus pelo seu problema. Davi clama: “Atenta para mim, Senhor, meu Deus e responde-me.”
Ele não desiste de clamar a Deus mesmo quando não consegue sentir a presença e o cuidado divino de forma plena.
Você está se perguntando e questionando a Deus: “Até quando, Senhor?” Continue perguntando e esperando. Não desista de confiar em Deus. Faça como o salmista: “Cantarei ao Senhor, porque ele tem me feito muito bem.” (Salmo 13:6).
Mesmo com grandes dúvidas, o rei de Israel tem a esperança de que um dia vai cantar reconhecendo o bem que Deus fez a ele. Que seja esta a sua e a minha experiência também quando vivermos a nossa fase do “até quando, Senhor?”
Marcos Vieira Monteiro