Palavra Pastoral – O VIRTUAL E O PRESENCIAL

Sou grato a Deus pelos recursos tecnológicos deste tempo. Imagine o cenário desta pandemia sem a possibilidade de contato virtual com nossos parentes, amigos e irmãos em Cristo.

Se as igrejas e escolas foram muito prejudicadas no cumprimento de sua missão pelos necessários impedimentos de realizar os cultos e aulas presenciais, quão maior seria o prejuízo se os principais recursos de comunicação interpessoal fossem os disponíveis há 30 anos atrás: carta, e-mail, fax e telefone fixo.

Grande parte das empresas, igrejas, escolas e tantos outros setores da sociedade precisou investir pesado em comunicação através da internet. Em nossa igreja fizemos investimentos significativos visando uma transmissão dos cultos com maior qualidade e alcançar um número maior de visualizações.

Felizmente, a facilidade e o baixo custo para acessar qualquer conteúdo através do WhatsApp e outros canais de comunicação virtual nos possibilitam chegar a quase todos que desejam conectar-se conosco.

Neste novo cenário muitas empresas, escolas e igrejas estão priorizando o atendimento virtual de seus clientes e de sua membresia. Será essa uma escolha sensata?

Li diversas matérias sobre o EAD (Ensino a Distância). A maioria nos sites das escolas que estão oferecendo esta modalidade de ensino. Todas enfatizando as grandes vantagens de se estudar on line. Hoje há, inclusive, escolas que migraram 100% para o ensino EAD.

Muitos estão se contentando em receber um ensino a distância por questões econômicas, investimento de tempo e acesso a professores com melhor qualificação. Mas, será que estas vantagens realmente superam sempre as desvantagens de um ensino presencial?

Pensando no contexto das igrejas. É um fato que muitos tem preferido participar de cultos e programações eclesiásticas no ambiente virtual. Pergunto: será que a experiência de acompanhar um culto no celular, em um computador ou em uma TV de última geração, em sua casa ou em qualquer outro ambiente se compara à experiência presencial?

Estou na contramão dos entusiastas do ensino a distância, dos que se contentam em participar do culto on line ou dos que deixaram de se encontrar pessoalmente com familiares e amigos.

No início desta semana estive no Seminário Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro. Vendo os alunos nas salas de aula interagindo com os colegas e professores, as rodinhas de conversas no corredor e no refeitório, o culto presencial na capela, percebi como tudo isso é tão precioso na formação integral dos futuros pastores.

Creio que todos os alunos universitários (especialmente os estudantes na área de humanas), têm um ganho extra quando fazem um curso presencial. A formação de um profissional transcende o que ele pode aprender ouvindo uma palestra ou uma aula on line.

Não sou contrário a que escolas e universidades ofereçam cursos on line. Muitas vezes esta formação é a única possível para quem vive num lugar muito isolado ou não possui os recursos necessários para morar na cidade onde um determinado curso é oferecido presencialmente. Deixar, porém, de oferecer a opção do curso presencial para os alunos que possuem recursos e tempo para uma formação de qualidade superior, parece-me um sério equívoco.

Esta mesma lógica se aplica à igreja. Podemos cultuar a Deus on line. Isto não significa que devamos substituir o culto presencial por uma celebração virtual.

O culto presencial envolve uma preparação muito maior. Vestimos uma roupa adequada ao ambiente do culto e saímos de nossas casas. Iniciamos assim uma preparação psicológica para a experiência do culto. Encontramos nossos irmãos queridos, nos cumprimentamos (às vezes, até com abraços), conversamos com eles “olho no olho” e interagimos com os visitantes. Tudo isso fortalece nossa comunhão cristã. Cantamos juntos ouvindo as vozes dos que estão ao nosso redor, temos um contato mais próximo com o pregador, fugimos para longe das distrações em casa, desligamos os equipamentos eletrônicos que disputam o tempo todo a nossa atenção. Isso produz foco e revela dedicação a Deus.

Você se sente seguro para sair de casa? Não se acomode com os contatos virtuais. Eles devem ser reservados preferencialmente para interagir com quem está bem longe geograficamente ou quando existem barreiras intransponíveis para uma comunicação pessoal.

Volte às aulas presenciais, se for possível, e também aos cultos em sua igreja. O contato virtual jamais superará o contato verdadeiramente pessoal.

Marcos Vieira Monteiro

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